Bósnia e Herzegóvina
- Yan Soares
- Aug 18, 2022
- 2 min read
Updated: May 7
Minha chegada à Bósnia e Herzegovina começou de forma nada convencional: desembarquei em Banja Luka, uma cidade ao norte do país, em um aeroporto minúsculo. A primeira surpresa veio logo após o pouso — caminhei 24 quilômetros até o hotel onde me hospedaria. Sim, vinte e quatro. Uma jornada e tanto para começar a viagem.

Fiquei dois dias em Banja Luka, explorando suas ruas tranquilas e percebendo uma cidade que, apesar de sua calmaria atual, carrega uma energia estranha, quase melancólica. A Bósnia é assim: bela e silenciosamente intensa. Quando chegou a hora de seguir viagem, encarei mais 8 quilômetros a pé até o ponto de ônibus para Sarajevo. Andei muito, mas valeu a pena.
Algo que me surpreendeu foi o fato de que muitos lugares ainda não aceitam cartão — tudo é feito em dinheiro. A moeda local é o marco conversível, e em várias situações precisei ir até caixas eletrônicos. Um detalhe que exige atenção para quem está acostumado com pagamentos digitais.

Ao chegar em Sarajevo, a impressão foi imediata: uma cidade viva, com camadas de história em cada esquina. A arquitetura é um reflexo das muitas influências que moldaram a região — otomana, austro-húngara, iugoslava — e dá à cidade uma estética única, quase fora do tempo. As ruas estreitas da Baščaršija, o antigo bazar otomano, contrastam com os prédios em estilo austro-húngaro do centro moderno. Sarajevo é, ao mesmo tempo, bela e marcada por cicatrizes.

É impossível estar ali e não sentir o peso da guerra que assolou a Bósnia nos anos 1990. A Guerra da Bósnia (1992-1995) foi um dos conflitos mais brutais da Europa após a Segunda Guerra Mundial, e Sarajevo foi sitiada por quase quatro anos — o cerco mais longo da história moderna. Andando pela cidade, é comum ver os chamados “rosas de Sarajevo” — marcas de explosões de morteiros preservadas no chão, preenchidas com resina vermelha, lembrando as vidas perdidas.
Também vale comentar sobre a diferença entre Bósnia e Herzegovina, que muitas vezes são tratadas como uma unidade. A Bósnia ocupa a maior parte do território, com Sarajevo como capital e epicentro cultural. Já a Herzegovina, ao sul, é mais montanhosa e ensolarada, com cidades como Mostar, famosa por sua ponte histórica destruída e reconstruída após a guerra. Embora formem um único país, essas duas regiões têm identidades culturais e históricas distintas, moldadas por séculos de influências étnicas e religiosas variadas: bósnios (muçulmanos), croatas (católicos) e sérvios (ortodoxos).

Estar na Bósnia e Herzegovina é estar num lugar denso. A atmosfera carrega memórias de um passado recente muito doloroso, mas, ao mesmo tempo, tem beleza e resiliência em tudo — nas pessoas, na comida, na música, nas mesquitas e igrejas que dividem o mesmo espaço. É um lugar que te desafia a olhar para a história com mais atenção e empatia.

Viajar para lá foi uma experiência profunda. Interessante. Intensa. Um lembrete de que a Europa vai muito além dos destinos clássicos e polidos. A Bósnia e Herzegovina tem suas próprias histórias para contar — basta estar disposto a caminhar (às vezes literalmente) por elas.
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