Madri, Espanha

Num intervalo de apenas um ano e meio, tive a sorte de visitar Madri duas vezes — e posso dizer com toda certeza: essa cidade tem o seu encanto. Cada experiência foi única, mas ambas espetaculares. Na primeira viagem, fui com minha amiga Dasha. Na segunda, com o Josh e a mãe dele. Duas companhias diferentes, dois momentos da vida, e ainda assim o mesmo sentimento ao chegar na capital espanhola: Madri é vibrante, acolhedora e cheia de histórias para contar.

Um dos aspectos que mais me impressiona em Madri é a sua infraestrutura. O metrô funciona bem, as ruas são limpas, há espaços públicos bem planejados e seguros. É o tipo de cidade onde você sente que pode andar por horas e sempre descobrir algo novo — de praças escondidas a cafés charmosos.

E falando em cafés… é impossível não mencionar um clássico local: churros com chocolate quente no café da manhã. Simples, mas tão emblemático da cultura madrilenha quanto as touradas (felizmente em declínio) ou os tapas compartilhados com amigos ao fim da tarde.

Algo que poucos sabem: os parques de Madri não são apenas grandes, são imensos. E muitos deles têm origem nobre — eram antigas fazendas e jardins da família real. O Parque do Retiro, por exemplo, foi uma propriedade dos monarcas espanhóis antes de se tornar um espaço público. Caminhar por lá é como passear por uma pintura: lagos, esculturas, fontes, sombra de árvores centenárias e músicos de rua criando trilhas sonoras espontâneas.

Aliás, vale lembrar: a Espanha ainda é uma monarquia. Embora parlamentar e com poderes limitados, o rei continua sendo um símbolo do Estado. E a influência da realeza está espalhada pela cidade — nos nomes das avenidas, nos palácios, nos monumentos.

Madri é uma aula de arquitetura a céu aberto. Dos edifícios barrocos e neoclássicos aos exemplares mais modernos, a cidade combina diferentes estilos com uma harmonia encantadora. As estátuas e esculturas que encontramos por toda parte contam capítulos importantes da história espanhola — ou, pelo menos, da versão oficial dela.

E aqui cabe uma reflexão importante: de onde veio tanta riqueza para construir tudo isso?Como outros países da Europa, a Espanha se tornou um império às custas da colonização e do saque de territórios na América, África e Ásia. Muito do ouro que financiou palácios, igrejas e guerras veio de lugares onde povos foram explorados, dizimados ou forçados ao trabalho. Essa é uma sombra que paira sobre os encantos da cidade — uma contradição que não dá para ignorar, mas que também não apaga o valor cultural que Madri tem hoje.

Um bairro que sempre me desperta curiosidade é Chueca, o famoso bairro gay de Madri. Já foi muito mais efervescente e ativista, mas continua sendo um espaço de diversidade, com bares, lojas alternativas e uma atmosfera alegre — especialmente durante o Orgulho LGBT+, que atrai visitantes do mundo inteiro.

Durante minha primeira visita, Dasha e eu fizemos um trekking de um dia fora de Madri — e posso dizer: sair da cidade também vale muito a pena. As montanhas próximas oferecem paisagens completamente diferentes, ar puro e trilhas que renovam corpo e mente. Gosto de cidades grandes, mas o campo sempre me chama.

Madri, com todas as suas luzes e sombras, me conquistou. Seja passeando pelos parques reais, admirando a arquitetura imponente ou tomando um chocolate quente com churros, é fácil entender por que tantas pessoas se apaixonam por essa cidade. Já fui duas vezes, e quem sabe em breve venha uma terceira. Porque Madri, com toda sua complexidade, ainda guarda espaço no meu coração.

Fotos e texto produzidos por Yan Soares.