Niš, Servia

Passei duas semanas em Niš, na Sérvia, e foi uma experiência que me surpreendeu profundamente. Não é um destino turístico popular — e, para mim, isso foi uma grande vantagem. Niš me ofereceu uma mistura rara: preços acessíveis, muita história, e uma autenticidade difícil de encontrar em cidades mais visitadas da Europa.

Niš é uma das cidades mais antigas da Europa, com raízes que remontam ao Império Romano. Mas o que mais me marcou foi visitar o campo de concentração nazista "Crveni Krst" (ou "A Cruz Vermelha"), que funcionou durante a ocupação alemã na Segunda Guerra Mundial.

Esse lugar preserva o testemunho de um dos capítulos mais sombrios da história moderna. O campo foi usado para deter e exterminar sérvios, judeus e ciganos. O prédio principal, ainda de pé, mostra condições brutais: quartos escuros, sem aquecimento no inverno, sem ventilação no verão, e camas improvisadas no chão de concreto. Os prisioneiros sofriam espancamentos, fome, e eram forçados a trabalhar em condições desumanas. Muitas vezes, esses momentos de desespero viravam justificativa para execuções públicas. É um lugar difícil, mas essencial de ser visitado. Precisamos estudar a história não só para lembrar, mas para não repetir.

Além do passado sombrio, Niš tem vida. Tem mercados, pessoas simpáticas e ruas com muito para explorar. O mercado público da cidade é um mundo à parte: ali se vende de tudo — roupas, frutas frescas, queijos, utensílios domésticos e, infelizmente, até animais em gaiolas. É um retrato cru e real da vida cotidiana fora do circuito turístico europeu.

Uma das coisas que mais me chamou atenção foi o contato com a língua sérvia — escrita tanto com o alfabeto latino quanto com o cirílico. Não é fácil de entender para quem não está familiarizado, mas ver a língua viva em todos os cantos foi fascinante.

Também me surpreendi ao ver algumas pessoas usando camisetas do Brasil! Não sei se por causa do futebol, da música ou outra influência cultural, mas foi um detalhe inesperado e curioso que me fez sorrir.

Niš não é uma cidade para quem busca glamour ou cartões-postais perfeitos. É um lugar com cicatrizes, com uma história marcada por invasões, resistências e reconstruções. Mas é justamente essa profundidade que a torna especial. A ausência de turismo de massa faz com que a experiência seja mais íntima, mais verdadeira.

Gostei muito da minha estadia lá. Foi econômica, culturalmente rica e cheia de aprendizados. É o tipo de lugar que não te seduz de imediato com grandiosidade, mas te conquista aos poucos, com honestidade. Se você está buscando uma cidade autêntica, cheia de história e fora do radar, Niš pode ser uma bela surpresa.

Fotos e texto produzidos por Yan Soares.